sábado, 30 de janeiro de 2010

Pesadelo de Preto



Parece que ainda durmo 
são olhos que teimam pregados
sonho este pesadelo todas as noite em mar
acordar adoece toda minha nudez

Algo falta à alma negra
uma peça de roupa e um copo de cachaça
um pensamento preenchido sem ódio
um grito contido nos navios negreiros.

O pulsar de meu coração carrega por minhas veias
a dor da invalidez de um tronco
a noite pulsa em minha pele como gritos: liberdade
a madrugada reluz em meus cabelos sem a aurora de meu lar.

Meu grito no negrume, ecoa aos ancestrais.
me fizeram sujeito do triste medo de mim: 
um dia senti a solidão aconchegada no colo de minha mãe esperando eu chegar.

Certamente ainda durmo,
um pesadelo que não consigo acordar
como se eternamente as ruas fossem cobertas de corpos pintados de anoitecer

É preciso acordar as covas que nem foram cavadas
viver em posse de meus frutos: alforriado
beber o cálice que tiraram de minhas veias: enterrar meu corpo preto.

A noite me intimida adormecido sem lugar
o corpo calado me faz signo apenas simbólico
reajo a minha ignorância com palavras de minha própria língua e me vejo acordar.


30/01/10 / 21.05.2019


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